METAMORFOSE

O poeta é autoflagelo
Carne dilacerada
Alma que se desnuda
Mil capas entranhadas.

O poeta é ferida aberta
Corpo exposto
Consciência da dor
Inconsciência de si.

O poeta está no mundo
O mundo dentro dele
A poesia dentro dele
Realidade transpirada.

O poeta é um ovo?
A clara? A gema?
Poeta é casca
Completa sensibilidade!

Masoquista!
Narcisista!
Exibicionista!
Ilusionista?

Poeta é inflamação
Hiroshima Nagasaki
Implosão mal planejada.

Pés aleijados
Caminho reto.
Mãos aleijadas
Poesia errante.

Poeta é raiz em terra estranha
Alimenta-se de nutrientes e poluentes
Não distingue as pedras que apanha.

Misto de amor e sanha
Um formigueiro na alma
Na mente: sarcasmo de aranha.

O tempo é mestre que ensina
Deslembrando um pouco de cada vez
Cada ruga, um cravo do calvário
Vulgar ironia, que desfaçatez!

Gregor Sansa meu espelho
Há no poeta mil kafkas
Não estranhe este rosto feio
Pois sou Eu com tuas marcas.

IVAN SANTANA

RECOMENDO

Esse eu recomendo achei essa peça rara em um sebo andando pelas ruas religiosas e conservadoras do Juazeiro do Norte.

...matamos o dragão,
matamos Jasão...
também Orfeu,
afinal,
pra que servem os poetas?!

Edson Xavier

CANSAÇO DAS ERAS

Vamos marchar em direção as nossas feridas
Semear agulhas por entre corações cansados
Desfilar nossas infelicidades
Purgar mazelas em bares amarelos
Não me apresentei devidamente
Me chamo Cansaço das Eras
Viajei por entre mundos tortos
Vi espadas nas mãos de santos
Confissões sem padres
Condenações sem réu
Inquisições para inocentes
O gosto da poeira
O sabor da dor
Andei entre doidos e mendigos
Li para ascetas e degenerados
Como estou exausto desse eterno retorno
Peles e ossos cansados , sorrisos em areia movediça
Eles são sempre os mesmo de outrora
Fracos, pálidos ,sem cor
Eles sempre são os mesmos
Os anos caminham e pessoas correm
O aço atravessa a carne
E a guerra passa na televisão.


Sou o Cansaço que fustiga a lepra que separa o homem do monstro
Sou o estandarte que simboliza o nada
O cruzado arrependido sem pátria

Estou cansado das mesmas eras
Do passar enjoativo da humanidade

Tenho que me entregar ao sono monossilábico
ao entrevero banal , prolixo
Desses santos corcundas.

Pois só assim vou compreender a raça humana
Apenas a ressaca sepulcral de todos os mundos pode me deixar cansado.

JOÃO HENRIQUE
 
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