SANCTUM POETICUM




“Eu direi as palavras mais terríveis esta noite... este é o meu estranho emprego este mês”
(Roberto Piva)
Estive muito tempo dentro de um buraco
E agora que o buraco esta dentro de mim
Posso escavar-me sempiternamente ao meu bel prazer
Nesse determinar-se ad infinitum...
Tive um êxtase dionisíaco um delírio profético
Ao qual eu batizei de tanatologia para mortos-vivos
Um delírio epifânico aflorou-me as portas da percepção
Dando-me acesso a um arcanum revelador
Ao qual vos participo agora irmãos...
Fui eu quem matou a poesia para que ela fosse crucificada
Canonizada santificada entronada e adorada novamente
Tornalá-ei dogma e em seu nome erguerão altares
A louvarão em êxtase e com fremir e em júbilo verterão lágrimas de emoção
Em nome da veneranda santa poesia
Regozigem-se ovelhas do rebanho poético da salvação
Prostem-se perante a mater nostra intercessora dos deuses
Tragam suas humildes oferendas
Ofereçam em holocausto seus filhos inocentes e suas próprias vontades
Para a gloriosa expiação de vossas mediocridades
Sacrifiquem jovens virgens a poesia reclama por sangue puro
O cabaço deve ser deflorado ad majorem gloriam sanctus poeticum
Aproximem-se todos em ecumênica adoração e reverência
Venham lavar seus cus hipócritas com o vinho da oblação
E da purificação através da desmesura da libido corporis
No desabrochar vertiginoso da arte poética.

LEIDIVAN  ROGRIGUES

MEMÓRIAS FILMADAS PELO MENINO CINEASTA

In memoriam de Régis Moreira (1988-2010)
Nos deixou assim como quem não foi .Se tivesse pelo menos me falado não tinhas partido .Não deixaria a reta que traçou entortar seu destino. Entre um passar de vida e começo de morte .Andou pelo solo do mundo .No curta metragem existencial dos teus sonhos. De vez em quando queria ser Antoneoni no eclipse funesto da última noite .Escondia-se no suspense de um corpo que cai procurando Hitchcock .Passeava por Bergman no jardim dos gritos e sussurros . Entregue ao chamado da sétima arte .E o grito de sua aflição .Seu filme será sempre assistido pelo cinema de nossas lembranças . João Henrique 02/11/2011

Um velho louco se debruça
sobre as janelas do pensamento
onde o verbo se faz carne
e do caos brota o mundo

Mira-se no espelho de Narciso
molda o esterco com as mãos
dando-lhe forma e conteúdo
um escarro, porém, lhe dá vida

o velho fica a esgueirar-se
espionando sua criação
dia após dia fica se escondendo
a rir do seu patético brinquedo

no brilho doentio de seus olhos
pode-se ver o azul celeste
e na aridez de sua pele
todas as chagas do mundo

os mais divinos entorpecentes
o levam aos desertos do norte
o levam a terra de púrpura
e todo mundo conhecido

dias e noites...dias e noite
o ciclo infinito da existência
razão cósmica insuprimível
geradora da total insanidade

o velho aguarda aborrecido
por infindáveis anos a fio
no tédio da ridícula onisciência
a morte que teima em não vingar.

EDSON   XAVIER
 
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