Entrevista: LEIDIVAN RODRIGUES


Depois de um tempo parado resolvi voltar a ativa e entrevistar mais um " PROVOCADOR DAS PALAVRAS " Leidivan coloca suas opiniões e diatribes vociferando suas criticas ferozes aos valores medíocres de uma sociedade sectária e acéfala .No seu artefato que atende pelo forte nome de "K-ÓTICA " que será lançado de maneira bem underground para o público que gostar de poesia .

 (F.C.) NOS FALE DOS SEU PRIMEIRO CONTATO COM A LITERATURA.

 Bem, o meu primeiro contato com a literatura foi um tanto tardia, posso te dizer que só fui me interessar por ela quando eu estava terminando o ensino médio, na época eu tinha uns dezessete anos e achei um livro de poesias do João Cabral de Melo Neto esquecido na biblioteca do colégio em que eu estudava (você deve estar se perguntando)... É eu roubei o livro. Desde então procurei conhecer os clássicos da literatura e da poesia brasileira e universal, e mais adiante procurei conhecer os autores subversivos. Também me ajudou muito nessa busca um programa de entrevista que passava na TV cultura na época, chamado provocações apresentado pelo mefistofélico Abujamra, nele eu pude conhecer diversos autores que me instigariam a criar a minha própria arte.

 (F.C.) COMO VOCÊ MOLDA E CONSTRÓI SUA ESTÉTICA POÉTICA


 Não há necessariamente um sistema, na verdade sou avesso a qualquer tipo de regra ou imposição estética ou estilística, posso te dizer que eu não construo o que ocorre é o oposto, há uma desconstrução, já que toda construção tem como imperativo a destruição e vice versa. Por outro lado, a minha arte é extremamente sensitiva, pense no desregramento dos sentidos que encontramos em Baudelaire e Rimbaud e nos artistas surrealistas, por exemplo, e na proposta pessoana encontrado naquilo que ele chamou de “intersensacionismo”. Entre o homem ou poeta e o papel em branco existe um ávido desejo de explorar sem limite algum todas as possibilidades e nuances que o infinito universo da palavra e da realidade nos oferece... Se bem que, a forma desistiizada e, de certa forma desregrada com que eu escrevo não deixa de ser uma forma estilística. No mais, toda arte é uma forma de expressão e deve atender aos anseios de quem a empreende e nada mais.

 (F.C.) É DO MEU CONHECIMENTO QUE VOCÊ CURTI MUITO METAL EXTREMO. NAS SUAS MAIS VARIADAS VERTENTES .DE QUE FORMA ISSO INFLIENCIOU NA SUA POESIA ?
 Bem, é do seu conhecimento que existe naquilo que eu escrevo um certo gosto pelo grotesco, por temas violentos e por um tipo de universo caótico, orgiástico, anticlerical, profano, um fascínio pela morte e pelo lado sombrio da vida. Todos esses temas nós encontramos a contento não somente em bandas de metal como também em algumas bandas de rock’n roll. Tenho contato com esse tipo de música desde que eu tinha uns doze anos e, de certa maneira, ele me ajudou a moldar e muito o meu caráter. Com certeza, o frenesi violento que exala de meus poemas são também influenciados pelo metal já que ele faz parte de minha existência e corre venosamente em minhas veias vinte e quatro horas dos meus dias.

 (F.C.) ME DÊ MAIS DETALHES SOBRE SEU LIVRO DE POESIAS.QUANDO VAI PUBLICA-LO ? E DE QUE FORMA VAI FAZE-LO? QUANTAS POESIAS VÃO SER?

 Pois é, ele está engavetado e quando ele sair vai virar uma antologia já que já tem uns três anos que eu venho me inclinando a lançá-lo, acho que ele será o meu eterno projeto. Tenho um apanhado considerável de poesias, mais ainda acho que são muito poucos, acho que deve ter uns setenta poemas, eu não mais os contabilizei, pois, sou um escritor passivo, escrever não é uma atividade burocrática e como já sou bem grandinho para acreditar em inspiração poética, mais das vezes prefiro ser afetado pelas coisas, vivenciá-las, digeri-las, regurgitá-las e devorar o instante novamente, e só depois é que eu escrevo. Escrever não constitui uma exigência para mim, é antes um deleite... E já que oitenta por cento de nossa vida não é consciente de si, o poema aparece quando ele bem entender, e por tal motivo, não escrevo muito e ainda acho que possuo poucos poemas para se constituir um livro. Sei que quando eu lançá-lo se chamará K-ótica, lançarei de forma independente, quero que seja algo artesanal, xerocado e sem muita publicidade, não tenho a intenção de ser o poeta de um grande espetáculo, e no momento o lançamento do livro não se constitui uma prioridade, deixá-lo-ei germinar de maneira natural. Por enquanto, venho postando de uma maneira não muito assídua poemas no meu blog, e é isso. Mas penso em lançá-lo um dia, e você saberá de antemão.

 (F.C.) SEUS ESCRITOS FEDEM A QUE ? ( PERGUNTA FILOSÓFICA)

 A tudo que é humano já que isto não me é estranho. Os meus poemas possuem uma miríade de cores, sabores e aromas, mais dais vezes disformes, azedos e fétidos, tudo aquilo que a cultura de massa renega constitui a minha matéria prima, o meu ponto de partida, a humanidade em toda a totalidade que esse termo abarca é a minha primazia. Depois, eu posso desferi de volta em seus rostos apáticos tudo aquilo que eles negam e que fingem não ver e que sentem aversão ao enxergar, comer, cheirar. Os meus escritos são provocativos até o talo meu velho, e causa o mesmo estrago ás pessoas enfiados nariz ou boca á dentro, como cu á dentro.

 (F.C.) DEFINA O SER POETA E O SER-POETA NA SUA VISÃO DE MUNDO.

 Não tenho nenhum tipo de visão mistificadora do artista, ou melhor, prefiro desmistificar esse tipo de crença que há nessa metafísica do artista e da arte. O último poema que eu postei em seu blog chamado Sanctus Poeticum significa uma dupla provocação á toda e qualquer ontologia, seja ela religiosa ou artística. O artista ou o poeta, é de fato um ser privilegiado e talvez extraordinário pela sua esquizofrênica percepção dos fatos externos e internos, mais não existe nada de divino em seu exercício. Certa vez Kafka estava visitando uma galeria de arte com um pupilo seu chamado Gustav Janouch, este se deparou com uma pintura de Picasso e então comentou que Picasso deformava intencional e exageradamente o ser humano, Kafka então disse que o que ocorria era que Picasso tinha apenas penetrado em um lugar da realidade que a consciência comum não conseguia ainda perceber, e acrescentou que a arte era um mecanismo que adiantava os fatos feito um relógio. Pois bem, se pensarmos no gosto pela vidência de Rimbaud e William Blake, por exemplo, podemos ter uma visão aproximativa daquilo que constitui a arte. O poeta possui uma horizontal e privilegiada visão das coisas humanas, uns mais e outros menos
.
 (F.C.) SUAS PALAVRAS LUTAM CONTRA QUAIS VALORES E DISCURSOS ?

 Minhas palavras são um riso frouxo e estridente, um vomitar para com qualquer tipo de conformismo em vida e arte, contra toda e qualquer pretensão uniformizadora e arrebanhadora... Critico o meu tempo vivendo a parte, na contra mão do progresso humano, sou um outsider, mas também tenho ciência de minha natureza sádica, e assim não me enfureço contra os medíocres já que eles possibilitam a exceção.

 (F.C.) CITE ALGUNS DOS SEUS AUTORES PREFERIDOS.
Dostoiévski, Kafka, Rimbaud, Baudelaire, Sade, Pessoa, Blake, Nietzsche, Heráclito, Piva, Você, Mário de Sá carneiro, Saramago, Poe, Graciliano Ramos... Puta que pariu, tem muita coisa que eu gosto escritores, poetas, pintores. Vou te deixar com essas figurinhas carimbadas, como vê, ando sempre em má companhia, o próprio Satanás não mexeria comigo.

 (F.C.) RECENTEMENTE LANCEI MEU LIVRO OSSUÁRIO DE PALAVRAS MALDITAS E OBSERVEI UM FATO INTERESSANTE .COMO AS PESSAOS AINDA ACHAM QUE POESIA TEM DE NECESSARIAMENTE ESTAR LIGADA A TEMAS BONITOS DE AMOR , PAZ , VIDA NO CAMPO E SEI LA MAIS O QUE
 .
 Existe algo pior, se você mora no nordeste então deverá escrever sobre seca, fome, ou seja, no bom estilo regionalista, nada contra, só que a arte é universal não é mesmo. Mas de fato, a poesia sempre foi associada a esses temas de novela das seis, as pessoa querem seu panis et circenses para continuar vivendo ilusoriamente e confortavelmente suas vidas. Não tenho a intenção de revolucionar nada com meus escritos, à arte é um barro cru que cada qual molda a seu bel prazer, só não me sinto obrigado a escrever sobre o que quer que seja dentro de minha realidade regional ou imposto por medíocres anseios espirituais. Como disse Piva, “sou um poeta na cidade e não da cidade”.

 (F.C.) ESPAÇO ABERTO VOMITE SUAS IDIOSSINCRASIAS.

 Somos poucos, mas muito perigosos, o cheiro de enxofre não prenuncia o inferno metafísico, e sim nós, criaturas de carne e osso e subversão, o inferno é degustado no café da manhã e cotidianamente rege a mórbida sinfonia de nossas vidas... Acho que as pessoas estão mais “bestas” do que na época da inquisição, a igreja tira em nome de deus o fruto dos suores dos cegos devotos e estes se regozijam pelo lugar comprado no céu loteado, estamos voltando á época das trevas, as igrejas se multiplicam feito ratos, e mesmo quando a gravadora brada o genial slogan, “você adora, a sl... toca”, eu é que fico adorando tamanha cara de pau e santa ingenuidade. Nós seremos queimados com certeza, em nome dos direitos humanos... Agradeço pela inédita oportunidade, espero nunca mais ser entrevistado, é algo esquisito... Sim, muito sucesso dentro de seus anseios com seu livro, ainda estou esperando a minha cópia.

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