O que não existe



Existia um homem em solidão. E uma dor. Depois existiam duas cores e nada de escuridão, nem de desespero. Existia então um caminho, longo porém excitante, perdorrido sem pressa e sem desperdício. Existia uma confiança absurda, uma crença de extraordinária pureza que parecia verdadeira. Mas existia falsidade, e também erro, e coisas foram mudadas. Existia uma fruta, madura, no chão. Existia um animal que dela se alimentava, e assim a fazia ter sentido. Existia um espaço onde tudo parecia se explicar. Existia um por do sol, um momento único. Uma invenção conhecida, um reencontro esquecido e um medo. E não existia saída. Existia outra dor, uma que não passava. Uma despedida sofrida e um último beijo. Existia uma força que a tempos não existia. Uma saudade que não se satisfazia e uma lembrança do que não aconteceu. E não existia nada mais.

Esdras Paiva

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